Escrita em diferentes idiomas na parede principal da cafeteria do Museu do Amanhã no Rio de Janeiro, a frase “COMER É UM ATO AGRÍCOLA” talvez seja a melhor demonstração teórica da relação do ser humano com agricultura.
Para quem atua na área de produção de alimentos, a Pandemia do Coronavírus, trata-se de uma preocupação também emergencial, produzir para matar a fome!
Entretanto, é responsabilidade de todos e devemos fortalecer os esforços de prevenção da contaminação com o coronavírus, porém medidas para reduzir a fome também é vital neste momento de incertezas e insegurança alimentar.
Pensando assim, neste texto abordaremos como pequenas ações agrícolas interage com as diferentes dimensões da sociedade e como a agricultura urbana e doméstica é uma aliada em tempos de pandemia por meio do cultivo de plantas e da sabedoria que natureza pode nos proporcionar de reflexão.
ECONOMIA
Durante e após a Pandemia a economia mundial poderá sofrer uma recessão. Levantando a hipótese que as pessoas e famílias que não contraírem o vírus também serão impactadas pela perda de trabalho e salários, talvez seja a oportunidade de se conectar com a terra e aprender a produzir alimentos. Trabalho, renda e garantia de alimentação pode começar com um projeto de horta urbana. Além disso, existe uma diversidade de alimentos que podemos produzir em casa em tempo curto e médio. Isto reduziria os gastos na compra destes alimentos, o que sobraria para a compra de outros itens essenciais da família.
EDUCAÇÃO
Sabemos que nem todas as crianças têm acesso a tecnologia necessária para o aprendizado remoto. O fechamento das escolas altera a vida das crianças e a construção de uma pequena horta pode ajudá-los a continuar aprendendo. É hora de educar nossas crianças ensinando de onde vêm nossos alimentos e como eles são produzidos. O velho ditado “o leite não vem da caixinha da gondola do supermercado”. O jardim ou quintal Se torna um playground para eles, se tronando um momento propício para conectá-los à natureza transformando este espaço em um laboratório multidisciplinar (escola) para adquirir conhecimento de todos os ramos da ciência.
SOCIALIZAÇÃO FAMILIAR
Todos os esforços das famílias para o cultivo de plantas como fonte de alimentação podem ser compartilhados. É um tempo propício para planejar em família mudanças nos ambientes, tais como quintal, jardins e ou até mesmo mudança das plantas que estão sendo cultivadas. Momento de perceber a presença de cada membro da família em uma força-tarefa enxergando os potenciais de criação e inovação de cada um. Também um bom local para isolamento familiar para quem mora na cidade ou quem tem uma chácara ou fazenda. O que e como comemos determinam, em grande parte, o que fazemos do nosso ambiente familiar. Uma horta pode ser vista como uma fonte saudável de alimentação familiar e, claro o excedente poderá ser doado, permutado ou comercializado.
REDUÇÃO DA FOME E DA DESNUTRIÇÃO
A fome pode agravar os problemas de saúde. A desnutrição pode enfraquecer o sistema imunológico das pessoas e por isso podem ficar mais ao risco não somente do coronavírus, mas também de outras doenças. A agricultura é crucial para a humanidade e para o planeta. Fome zero e agricultura sustentável são objetivos globais definidos pela ONU para acabar com a pobreza, promover a prosperidade e o bem-estar de todos e proteger o meio ambiente, tudo isso faz parte da agenda de sustentabilidade de 2030.
AÇÃO SOLIDÁRIA
Geralmente é difícil o equilíbrio de quanto semear e a nossa expectativa na maioria das vezes é surpreendida pela inteligência da natureza na multiplicação. Sempre a produção é farta e tem prazo de validade, por isso torna-se um momento de sermos solidários e repartir os frutos da colheita. Em pandemia o número de pessoas com fome cresce e os serviços de oferta de alimentação não são suficientes. Também o cultivo de plantas pode ser realizado por meio de ONGs, movimentos coletivos, por instituições e pastorais e movimentos religiosos, respeitando a recomendação do ministério da saúde. Momento de ser solidário com o seu vizinho, oferecendo o seu terreno vazio ou inutilizado para produzir alimentos. Aproveitar para auxiliar nos projetos sociais “Sopão”, asilos e tantos outros com o alimento da sua própria produção.
ENTRETENIMENTO E TERAPIA OCUPACIONAL
A pandemia coronavírus provoca uma mudança ampla na nossa vida. Utilizar parte do tempo para cultivar planta é uma forma de refúgio dos meios de comunicação, frente a tantas informações e “Fake News”. Realizar tratos culturais nas plantas, manejar o solo, torna-se uma oportunidade de atividade física, além disso está utilizando fisicamente o corpo para produzir comida de forma consciente e vernacular. Muitos estudos indicam que o contato com a natureza melhora a qualidade da saúde mental. Também mostram que atividades com plantas é uma forma de terapia e pode ser adotada para reduzir o estresse e manter a calma em um momento de distanciamento social e trabalho remoto.
FUTURO DA CIDADE
O futuro da cidade está nas mãos dos moradores e depende do que eles querem para ela. Alguns casos de sucesso em todo o mundo da harmonização da natureza com as cidades sustentáveis se baseiam em transformação de terrenos vazios e locais de casas abandonadas em Hortas Urbanas, parques e canteiros com árvores frutíferas. São simples ações e mudanças culturais que traz o fortalecimento da produção regional, da segurança alimentar local, especialmente familiar e também a redução de energia no transporte e dependência de outras regiões ou estados.
Enfim, um conjunto de matérias serão realizadas neste período de Pandemia pela equipe de estagiários do laboratório (NITEC). Nossa próxima matéria será sobre a força-tarefa que está sendo realizada pela equipe para disponibilizar uma Tabela informativa das principais culturas alimentícias da nossa região e tempo de colheita visando produzir alimentos em curto, médio e longo prazo.
*Responsabilidade social em “tempos de Pandemia” da equipe do laboratório de Tecnologia de Aplicação e Agricultura de Precisão do Campus Luiz Meneghel da Universidade Estadual do Norte do Paraná
Autoria
Prof. Rone Batista de Oliveira (Coordenador do NITEC)