Cultura na Universidade

 

            O termo “cultura” é amplo e abre margem para diversas abordagens. No entanto, no espaço concernente à nossa esfera de atuação, isto é, na Universidade, o termo pode ser abordado dentro de, ao menos, duas perspectivas, as quais, inclusive, fazemos questão de citá-las sumariamente. Referimo-nos à matização do conceito no âmbito da antropologia e da sociologia com intuito de elucidar o papel da UENP frente ao trabalho realizado. No âmbito da antropologia, registra Isaura Botelho que “a cultura se relaciona através da interação social dos indivíduos, que elaboram seus modos de pensar, agir e sentir, constroem seus valores, manejam suas identidades e diferenças, estabelecem suas rotinas” (BOTELHO, 2016, p.21).

            Nesse sentido, pode-se afirmar que o conceito em tela considera a cultura em dimensão mais abrangente, que engloba outras perspectivas, e que a entende como fruto da interação social humana. Em outras palavras, isso quer dizer que, nesse viés, a cultura é tudo que define e orienta as nossas atividades diárias, os nossos costumes, os nossos hábitos. Nas palavras de Botelho (2016, p.22), “a cultura é tudo aquilo que o ser humano elabora e produz simbólica e materialmente”.

            Passemos, então, à segunda definição de cultura, que é compreendida em perspectiva sociológica. Segundo a pesquisadora, “a dimensão sociológica da cultura se refere a um conjunto diversificado de demandas profissionais, amadoras, institucionais, políticas e econômicas, o que a torna visível e palpável. Ela é composta por circuitos organizacionais variados e complexos, passando a ser naturalmente o foco de atenção de políticas culturais” (BOTELHO, 2016, p.22).

Isto significa que a cultura passa a ser entendida enquanto cadeia de expressões artísticas que se assenta sobre três pilares: criação, circulação e fruição de bens artísticos e culturais. Como se vê, a cultura se aproxima da realidade artística que, como direito, deve passar por um processo de institucionalização e estar ao alcance das comunidades, da população. Nesse contexto, os governos federal, estadual e municipal possuem um papel importantíssimo no processo de organização de políticas culturais que devem atender às demandas sociais.

            As universidades brasileiras procuram dividir suas responsabilidades com as secretarias ou diretorias de cultura dos municípios onde estão instaladas. Isto porque a cultura, dentro do espaço universitário, é um elemento vivo ou, nas palavras no crítico Antonio Candido, é um elemento orgânico que nasce das necessidades imanentes de cada curso, sob diversos pretextos e que, por este motivo, tem a possibilidade de se estender à comunidade externa.

            Ademais, é preciso dizer que, na perspectiva sociológica da cultura, podemos sistematizar a Arte na universidade em pontos bastante específicos: 1. A cultura institucionalizada pela Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (PROEC); 2. A cultura institucionalizada pelos Centros de Estudos (ou Campus); 3. As expressões artístico-culturais espontâneas que surgem no seio da comunidade acadêmica;

            No que tange à institucionalização da cultura na UENP, por meio da PROEC, é preciso ressaltar que esta Pró-Reitoria é o setor responsável pela articulação dos pilares da cultura, ou seja, é ela quem fomenta a produção de arte no espaço acadêmico; propicia a circulação desses bens artísticos; e mensura o consumo da arte, bem como a sua produção. Como se percebe, a PROEC, através de sua Diretoria de Cultura, tem por objetivo e o dever de pensar a organização de projetos e eventos culturais que, em seu bojo, contemplem os três aspectos da cultura. Para orientar essas atividades, a PROEC segue as Diretrizes para a Cultura – documento elaborado no I Fórum de Extensão e Cultura da UENP, realizado em 2011.

            No que concerne à institucionalização da cultura por meio dos Centros de Estudos ou pelos campi, é preciso dizer os diretores e professores têm a autonomia para articular, junto de seus alunos, eventos que visem a integração de toda a comunidade por meio de ações culturais que proporcionem a fruição estética e o contato com diversas linguagens artísticas. Desse modo, quando a cultura passa a ser mobilizada em ações institucionais, como eventos, mostras, etc. significa que há, aí, uma valorização da Arte enquanto meio necessário e indispensável para a formação estética dos futuros professores e de outros profissionais.

            A terceira dimensão da cultura da Universidade é a mais orgânica de todas e não, necessariamente, passa por um processo de institucionalização. Em outras palavras, isso quer dizer que a cultura, nessa perspectiva, surge espontaneamente no seio da comunidade acadêmica. Uma roda de amigos a executar música popular brasileira, ou rap, ou samba, ou qualquer outro gênero musical na cantina é um exemplo dessa organicidade.

            Em suma, a Cultura na Universidade Estadual do Norte do Paraná é, por meio de sua Pró-Reitoria de Extensão e Cultura, tomada em sua dimensão sociológica. Assim, a gestão cultural prima pelo incentivo à produção, à circulação e mensuração de bens artísticos produzidos/difundidos tanto no âmbito da comunidade acadêmica como no seio da comunidade externa, que, diga-se de passagem, têm tido um papel fundamental para a promoção de políticas culturais sólidas e efetivas.

Prof. Me. James Rios

 

*Trecho da conferência intitulada “Cultura na universidade: o que é, como se faz?”, proferida durante a terceira edição do evento SarauUENP, realizada no Centro de Letras, Comunicação e Artes do Campus de Jacarezinho.

* Referência: BOTELHO, Isaura. Dimensões da cultura e políticas públicas. São Paulo em Perspectiva, São Paulo, v. 15, n. 2, 2016 .