UENP celebra o homem do campo no Carnaval 2019

Quinta, 21 Fevereiro 2019 11:47
Pavilhão da Bateria Capiau, agremiação organizada pela UENP com membros da comunidade para o Carnaval 2019 Pavilhão da Bateria Capiau, agremiação organizada pela UENP com membros da comunidade para o Carnaval 2019

Uma ode ao homem do campo. Esta é aposta da Bateria Capiau para o carnaval 2019. Estreante na avenida do samba, o Bloco de Jacarezinho pretende levar, à Rua Paraná, a relação do homem do campo com a Universidade. O grupo, que já é tradição em festas, jogos e desafios de bateria universitários, emerge no cenário carnavalesco de Jacarezinho com intuito de somar forças juntos às escolas de samba da cidade.

Modesto, o Bloco conta com cerca de 50 integrantes e, mesmo com poucos recursos financeiros, pretende apresentar o enredo “Sonhar, plantar e colher: UENP, novo celeiro de bambas”. Um dos coordenadores do grupo, o diretor de Cultura da UENP, prof. James Rios, comenta sobre o processo de concepção do enredo.

“Somos uma população interiorana notadamente marcada por traços culturais rurais. No processo de criação do enredo, buscamos resgatar as memórias – já quase perdidas – de nossos pais e avós. Precisamos nos reconectar às nossas raízes, de onde subjazem a força de trabalho do homem e da mulher do campo, bem como as festas e os hábitos que atravessam, por tabela, as nossas memórias”, disse.

Ainda com configuração de Bloco, o grupo, segundo Rios, tem a pretensão de ser uma agremiação estritamente organizada, a fim de resgatar a cultura local/regional em seus enredos. “Não temos, obviamente, condições estruturais de desfilarmos como escola de samba. Por isso, resolvemos nos organizar como bloco em potencial para se tornar uma agremiação maior no próximo ano. Embora nos enquadremos nessa configuração, vamos levar para a avenida uma comissão de frente, bateria, uma ala e uma alegoria. Vamos apresentar à população um trabalho sério e muito comprometido com a nossa festa popular”, finaliza.

A Bateria Capiau tem conquistado a confiança da comunidade. Segundo os coordenadores, artistas plásticos, músicos, professores, atores e membros da comunidade têm estado no Galpão Cultural da UENP contribuíndo com o processo de criação artística para o desfile. “Estamos muito felizes por poder contar com o apoio da comunidade e da Universidade. Artistas de diversas áreas têm se juntado a nós para reciclar e reinventar o que é possível. Estamos nos esforçando para apresentar à comunidade uma nova proposta de carnaval”, afirma Alfeu Junior, também um dos coordenadores.

Confira a sinopse do enredo

Sinopse

“Sonhar, plantar e colher: UENP, novo celeiro de bambas”

Fruto de um misto processo do colonização, a cidade de Jacarezinho, desde os primórdios de sua existência, tem assentada sua riqueza no setor agropecuário. É o homem do campo que, com seu esforço e tamanha dedicação, alimenta, emprega e gera renda para grande parte do contigente populacional, que é abençoado pela fertilidde de sua terra e pela abundância de seus recursos naturais.

“Pinga o suor na enxada/ a terra é abençoada/ preciso investir, conhecer.../progredir partilhar e proteger” (Unidos de Vila Isabel, 2013).

Acompanhando o intenso movimento migratório das capitais e grandes centros em pleno processo de urbanização, o exôdo rural do município se deu em virtude das novas oportunidades que as primeiras faculdades e institutos educacionais que Jacarezinho oferecia ao seus munícipes. Em meio a esse processo, emerge a presença monumental das faculdades de Filosofia e Direito, colaborando, veementemente, com o cenário intelectual e, sobretudo, cultural da cidade.

É a partir desse movimento que se pode observar o surgimento das manifestações artísticas nas artes plásticas, na música, no cinema (Pão de Açúcar, 1957) e da literatura (“Frutos do Mato”). Nomes como Joãozinho Caldeira, “o poeta do barro”; Edmilson Donizetti, Raymundo Honorato, Marina Moura, Remador e Canoeiro figuram entre as personalidades artísticas que evocam seus respectivos espaços bucólicos em suas poéticas. Assim, o campo, quase sempre evocado como expressão memorialística por esses artistas e filhos desta terra, traduz a força do capiau nas lavouras de café e cana-de-açúcar, o que eleva, à enésima potência, a importância de sua cultura.

Catalizadora de expressões a artísticas, a Universidade Estadual do Norte do Paraná tem incentivado a produção e a circulção de bens culturais cuja gênese expressa seu ruralismo, por meio de apresentações, exposições, mostras e palestras. É justamente nesse contexto que a Bateria Capiau se inscreve e se apresenta como expressão máxima do samba universitário sem renegar suas raízes, sua identidade caipira. Viola e tamborim, portanto, caminham, neste Carnaval, juntos nessa ode ao sujeito capiau semeador de sonhos.

“cai a tarde, acendo a luz do lampião
a lua se ajeita, enfeita a procissão
de noite, vai ter cantoria
e está chegando o povo do samba” (Unidos de Vila Isabel, 2013)

A proposta do Carnaval 2019 da Bateria Capiau é, como se vê, uma celebração ao homem do campo e a sua relação com a Universidade, na cidade de Jacarezinho. “O homem sonhou e um dia voou”, canta o samba da Unidos do Porto da Pedra há exatos 10 anos. O voo, nessa perspectiva, pode e deve ser entendida como a possibilidade que o ser humano tem de projetar os sonhos para a realidade. É o desejo dos Joões e das Marias em saciar a fome com a plantação. É o sonho dos Josés e das Zeferinas em ver seus filhos formados na faculdade, com o diploma na mão e o título de doutor “debaixo dos braços”.

Tão somente um grupo universitário “fazedor” de samba em competições esportivas e musicais, a Bateria Capiau realiza, em 2019, o sonho de seus integrantes e ex-integrantes de ampliar um projeto já referencial no âmbito de sua própria Universidade. Portanto, a partir deste ano, a agremiação passa a reescrever um importante capítulo da história do samba de Jacarezinho ao tornar-se um Bloco Carnavalesco. A próxima meta será, sem sombra dúvidas, semear o samba e disseminar a cultura do carnaval com inutito de valorizar a cultura local como forma de gratião à terra que tão bem acolhe seus filhos adotivos.

Enquanto esperamos o tempo da colheita...:
“ô muié o cumpadi chegou,
puxa o banco e vem proesar
bota a água do feijão, já tem lenha no fogão
faz um bolo de fubá” (Unidos de Vila Isabel, 2013)

Última modificação: Sexta, 22 Fevereiro 2019 10:36
Compartilhe: