Criado em maio de 2020, o projeto, coordenado pelas docentes Rosiney Aparecida Lopes do Vale e Geane Kantovitz, surgiu da iniciativa das professoras dos colegiados de Letras e História do Campus de Jacarezinho, ao observarem, em estudos científicos realizados no início da pandemia, que as chances de um paciente preto ou pardo e analfabeto morrer pelo coronavírus no Brasil eram 3,8 vezes maiores do que de um paciente branco e com nível superior.
Rosiney explica que, por conta do cenário da pandemia no País, as atividades do projeto, que estavam previstas para ocorrerem presencialmente, precisaram ser adaptadas para serem realizadas remotamente. “O projeto procurou problematizar questões relacionadas aos diferentes grupos étnicos e os impactos da Covid-19 e no pós-Covid junto aos alunos do ensino médio de escolas públicas de Jacarezinho, em especial, aos concluintes. Por meio dessa inserção no ambiente escolar, além de promover as discussões anteriormente mencionadas, procuramos divulgar a UENP em seus mais variados setores e orientar a inscrição dos alunos no ingresso ao vestibular, especialmente no sistema de cotas sociais e sociorraciais”, esclarece a professora.
A iniciativa conta com a participação de alunos da UENP para seu desenvolvimento. A acadêmica de História e voluntária do projeto, Vitória Graciliano Batista de Souza, ressaltou a importância de trazer a realidade da Universidade para os alunos da Educação Básica. “É importante destacar as políticas públicas que levamos para dentro das escolas, pois, infelizmente, há muitas crianças e adolescentes que não têm acesso à informação em relação aos direitos básicos e de educação que eles possuem. Fazemos questão de pontuar, por exemplo, as questões das políticas paliativas de cotas da Universidade para trazer as crianças e adolescentes para dentro do universo acadêmico e não perpetuar a segregação”, explica.
O projeto de extensão da UENP atende aos colégios estaduais da região, dentre eles, o Colégio Estadual Luiz Setti, em Jacarezinho. No que se refere ao impacto da pandemia na vida de alunos negros, a estudante do terceiro ano do ensino médio, Ana Vitória Colorado de Proença, destaca a condição financeira dos alunos. “Muitos precisaram parar de estudar para poder trabalhar e ajudar os pais que passavam necessidade. Houve também a necessidade da escola atender alunos sem acesso à internet através do material impresso. Se para nós, que temos acesso à internet, já era complicado conseguir compreender o conteúdo, imagino para quem pegava o material impresso por não ter condições de acompanhar as aulas”, comenta Ana Vitória a respeito do prejuízo no aprendizado dos alunos.
Nessa perspectiva, a professora Valdirene Barboza de Araújo Batista destacou a relevância da iniciativa do projeto de extensão. “É sempre interessante a parceria entre a Universidade e a Educação Básica. O projeto ganha importância no sentido de levar discussões que, muitas vezes, não são feitas na escola. É muito importante mostrar para os alunos as possibilidades que existem, como o sistema de cotas. Pela necessidade de trabalhar, vários estudantes veem a universidade como algo distante e acabam adiando o sonho de ingressar no Ensino Superior”, explica. “Ao observar a participação de universitárias bolsistas e voluntárias do projeto, os alunos também conseguem perceber que o leque de opções é maior”, complementa.
O estudante do ensino médio, Gabriel Alex Príncipe, expôs o quanto o projeto foi esclarecedor. “Desde o início dos encontros, só tivemos a ganhar. Pudemos, enfim, conversar e esclarecer quais os principais problemas que enfrentamos em sala de aula, partindo do investimento do Estado até o esforço individual do aluno. Isso nos permitiu enxergar a realidade e questionar as nossas escolhas”, avalia. “No projeto, pude, muitas vezes, encontrar soluções para problemas que, na minha mente, eram impossíveis de serem resolvidos. Como estudante de colégio público e pobre, posso afirmar que o projeto pode resgatar o compromisso e dedicação dos alunos”, finaliza.
O colégio Anésio de Almeida Leite, no bairro Aeroporto, em Jacarezinho, também é atendido pelo projeto. “Essa interação entre a educação básica e a universidade resultou em um momento muito importante para nós. Através da iniciativa, os alunos conseguiram se inteirar de como funciona o sistema de cotas, a universidade e os projetos desenvolvidos”, destaca a docente Elaine Paneguini, que participou ativamente do projeto no colégio.
O projeto conta, ainda, com a participação das alunas Talita Carolina Theodoro e Beatriz Mota Alves, do curso de Letras, e Emilene Cristina Vitoriano Bento, de História, que trabalham em conjunto com a coordenação para desenvolver as ações nas escolas da região.