Segundo o coordenador da Mostra Afro, professor James Rios, a Alvorada teve por objetivo conclamar a população negra da região para o debate sobre as relações étnico-raciais e reocupar um espaço que fora antes da comunidade negra. “A nossa região carece de intervenções que levem a população ao debate sobre as questões raciais. A Alvorada teve esse objetivo: provocar a comunidade para um debate que não fique restrito ao 20 de novembro. As pautas da população negra são urgentes e precisamos debatê-las com muita profundidade”.
“No que tange à ocupação do espaço, ou seja, do largo São Benedito, entendemos que a cultura afro-brasileira necessita ser vista e, mais do que isso, precisa reocupar os espaços que outrora foram seus. É uma forma de dizer que essa cultura existe e que precisa ser respeitada e valorizada. O racismo e a intolerância religiosa não cabem em uma sociedade diversa e democrática como a nossa. O Norte do Paraná precisa acolher a diversidade racial e religiosa”, acrescenta.
Durante o evento, líderes religiosos gravaram depoimentos para serem veiculados até o final da Mostra, dia 30. A Ialorixá Gláucia de Oxóssi destacou a importância do evento em relação ao respeito à cultura negra. “Estamos fazendo a alvorada dos Ojás para que as pessoas tenham mais respeito pela nação afro-brasileira e tenham mais consciência do que é a nossa nação. Estamos aqui, principalmente, pela paz”, declara.
A Mãe Rosa de Ogum fez um apelo pelo fim da intolerância com as religiões de matriz africana. “Pedimos muito às pessoas para que nos enxerguem de outra forma. O que fazemos são coisas boas. Muitos costumam dizer que o que fazemos é coisa ruim, coisa do diabo… mas não é. São coisas simples, iguais as que todas as igrejas fazem, e não como as pessoas costumam rotular. Hoje, estamos aqui representando a nossa história”, clama.
Na ocasião, Mãe Rosa de Ogum, Ialorixá Gláucia de Oxóssi, Mãe Carmem de Xangô, Roxibomi (José Abrão), Ebomi Érica de Xangô, Juliano de N’Lemba, Alfeu Junior e Cleiton Ferraz deixaram uma mensagem de conclamação à paz e o respeito à diversidade. Após a gravação, os religiosos enlaçaram a mais antiga árvore da praça, em sinal de agradecimento e respeito à natureza – ente fundamental para o culto das religiões de matriz africana.
Homenagem à Ialorixá Néia de Oyá
Durante o evento, a organização da Mostra realizou, junto aos convidados, uma homenagem à ialorixá Néia de Oyá – falecida neste ano. A religiosa, que contribuiu significativamente com as pautas afro-brasileiras junto à UENP, teve papel de destaque na região Norte do Paraná como representação do movimento negro. Na ocasião, a Pró-Reitoria de Extensão e Cultura entregou uma menção honrosa póstuma à sua irmã Érica Pereira de Souza.
Alvorada dos Ojás, o que é?
A alvorada dos ojás consiste num ato de enlaçamento de árvores de praças ou ruas com panos brancos. O intuito é chamar a atenção da população a fim de que esta reflita sobre a liberdade de crença, sobre o racismo e tantas outras formas de discriminação que acometem a população negra.