Com o objetivo de atender mulheres em situação de vulnerabilidade social, construindo uma rede de apoio que se consolida por meio da literatura, o projeto, aprovado pela Lei Paulo Gustavo do município de Jacarezinho, em 2023, é realizado por Ana Clara Ferreira, graduada em Letras e escritora; Mariana Ponciano Ribeiro Rennó, pós-graduada em História Social e Gestão Cultural; e Tatiana Aline Barbosa Santana, psicóloga e poeta.

“Para a viabilização do projeto, buscamos a parceria do Numape, que entrou em contato com algumas das assistidas para a participação. Num primeiro momento, foram entregues diários às assistidas, que foram convidadas a escrever durante cerca de duas semanas. Com isso, esperava-se estimular a criação literária e oferecer uma oportunidade de expressão livre das participantes. Esses diários foram o fio condutor da roda de conversa”, explicou Ana Clara.

O “Café com Literatura” reuniu as participantes, as trabalhadoras do Numape e a equipe proponente do projeto. “Formamos ali um grupo diverso de mulheres, com diferentes perfis de idade, educacional e socioeconômico, que dialogaram sobre suas vivências, violências e caminhos para a emancipação. A conversa foi muito emocionante e proveitosa”, destacou.

Para a advogada do Numape, Ana Amélia Manfré do Amaral, a participação do Núcleo no projeto encoraja as acolhidas a compartilharem e perceberem que, por mais que suas histórias de violência sejam únicas, elas não estão sozinhas. “É também um espaço de escuta, para que a mulher em situação de violência possa romper o silêncio imposto. A maioria das mulheres em situação de violência, quando buscam auxílio junto aos órgãos públicos, chegam muito abaladas e com grande dificuldade para falar sobre o seu padecimento. Elas esperam ser acolhidas e atendidas por uma equipe preparada, capacitada e com sensibilidade para atuar na área da violência”, disse.

“A partir dos diários, nossas acolhidas sentiram-se seguras e confiantes em relatar suas experiências e expressar sentimentos que até então estavam guardados por medo, confusos, e que agora são capazes de ordenar e clarear”, completou Ana Amélia.

Uma das mulheres assistidas pelo Numape e que participou do Café com Literatura destacou que o encontro foi muito importante e trouxe novas perspectivas. “Para mim, é muito importante ter esse apoio. Faz muita diferença saber que tem pessoas que entendem pelo que estou passando. O encontro me abriu novas perspectivas de futuro. Espero que o projeto tenha continuidade, para que possamos formar um grupo que apoia umas às outras, para fortalecer esses laços que tanto precisamos, laços esses entre mulheres que precisam de uma palavra amiga, que precisa do apoio para seguir em frente”, partilhou.

Segundo a preponente do projeto, Mariana Rennó, ao construir um diário, além da escrita terapêutica, possibilita-se o desabafo, a escuta no acolhimento e cria-se a confiança de mulheres em outras mulheres. “Ao partilhar poemas de grandes referenciais e de poetas locais, trocamos, com sensibilidade, sentimentos frente às várias violências que nos atravessam. Entre lágrimas e sorrisos, pudemos nos encorajar a seguir em frente, com esperança, graças à existência do importante instrumento Numape que trabalha na consolidação da rede de apoio jurídica, psicológica e afetiva”, concluiu Mariana.