Professores da UENP participam do documentário Rodyna sobre cientistas ucranianos

Quinta, 07 Agosto 2025 11:24
Professores da UENP participam do documentário Rodyna sobre cientistas ucranianos Felipe Henschel/AEN

Os professores do Programa de Pós-Graduação em Ciência Jurídica da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), Dmytro e Kateryna Slinko, participaram do documentário Rodyna — que significa “família” em ucraniano — lançado em 30 de julho, na Cinemateca de Curitiba. O casal e outros 22 cientistas ucranianos vieram para o Paraná após a invasão da Rússia à Ucrânia, em fevereiro de 2022, onde recomeçaram suas vidas como professores e pesquisadores em universidades paranaenses, graças à criação do Programa Acolhida pelo Governo do Estado.

Após a guerra, os cientistas precisaram interromper suas atividades acadêmicas em Kharkiv, onde moravam com as duas filhas. Dois meses após a chegada ao Brasil, a casa onde viviam foi bombardeada. Hoje, reconstroem a vida em Londrina e estão vinculados à UENP. Também pesquisador, o pai de Dmytro, professor Serhii Slinko, foi acolhido como professor visitante pelo programa. “Expressamos nossa imensa gratidão ao Governo do Estado do Paraná, à Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti), à Fundação Araucária e a todos os seus representantes que se dedicam incansavelmente aos cientistas ucranianos”, agradeceu Dmytro.

“Este apoio mudou nossas vidas, proporcionando segurança e um novo lar após os momentos difíceis que enfrentamos na Ucrânia, especialmente quando um foguete atingiu as proximidades de nossa casa em Cherkasska Lozova (Kharkiv), no início da invasão russa em 2022. A acolhida calorosa do Paraná, com sua rica herança cultural ucraniana, nos fez sentir parte de uma grande família. Somos profundamente gratos à UENP e à sua direção pelas oportunidades que nos permitiram continuar nossas pesquisas, atividades científicas e de ensino”, explicou o docente.

Dmytro Slinko também atua nos projetos “Jean Monnet Module EU-Crimjcoop”, que promove a política criminal da União Europeia, e “PROTECTIVE-EU”, focado na proteção dos direitos humanos de grupos vulneráveis, como refugiados e pessoas com deficiência. Já Kateryna tem avançado suas pesquisas sobre os direitos de crianças e idosos em contextos de guerra e se engajado em ações voluntárias com a Pastoral da Criança. “O apoio da UENP tem sido essencial para nossa integração e colaborações acadêmicas, como o artigo sobre terrorismo submetido ao Argumenta Journal Law, entre outros”, continuou.

Segundo o coordenador do Mestrado e Doutorado em Ciência Jurídica, Vladimir Brega Filho, a presença dos docentes ucranianos é muito importante para a UENP, pois traz uma série de benefícios acadêmicos, científicos e culturais. “A participação dos professores ampliou a visibilidade internacional do programa, facilitando parcerias com universidades e centros de pesquisa de outros países. Prova disso são os projetos que estão sendo realizados e que contam com recursos do Fundo Europeu. Além disso, os docentes trouxeram abordagens teóricas e metodológicas diferentes, enriquecendo os debates e a formação dos pós-graduandos, especialmente nas áreas de Direito Internacional e Direitos Humanos. Mais que isso, a vivência em contextos de guerra e reconstrução social permitiu que esses docentes abordassem temas sensíveis com profundidade e empatia, promovendo reflexões sobre justiça, direitos fundamentais e proteção de grupos vulneráveis”, destacou.

Para o pró-reitor de Extensão e Cultura, Rui Gonçalves Marques Elias, a acolhida da família Slinko na UENP foi uma experiência singular. “A presença dos professores tem sido afetuosa e inspiradora. Sem dúvida, essa acolhida nos ensinou sobre solidariedade, resiliência e o verdadeiro papel social da universidade. Embora tivéssemos um plano de trabalho estruturado, sabíamos que estávamos lidando com algo muito maior: vidas que foram abruptamente deslocadas por uma guerra. Em um município pequeno, fomos além da atuação técnica — participamos da adaptação da família à nova realidade, enfrentando juntos desafios cotidianos, como comunicação em farmácias e mercados. Graças ao empenho da equipe, conseguimos rapidamente viabilizar moradia, escola para as crianças e a inserção dos pesquisadores nas atividades de extensão”, enfatizou.

O professor Vladimir Brega Filho partilha, ainda, que o convívio dos professores ucranianos na UENP representa uma experiência profundamente enriquecedora para toda a comunidade acadêmica, pois promove uma vivência intercultural única. “Eles compartilham histórias reais de resiliência, solidariedade e reconstrução, o que sensibiliza alunos e professores para questões globais de direitos humanos, paz e justiça. Assim, o contato direto com professores que enfrentaram adversidades extremas e continuam produzindo ciência de qualidade inspira os alunos a valorizar a educação, a pesquisa e o papel transformador do conhecimento. Por outro lado, o acolhimento desses professores reforça o papel da universidade como espaço de inclusão, empatia e compromisso social. A UENP se torna não apenas um centro de ensino e pesquisa, mas também um lugar de refúgio e reconstrução de vidas”, concluiu.

Documentário Rodyna

A Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) foi responsável pela elaboração do projeto que embasou o programa e pela produção do documentário Rodyna. Uma equipe, liderada por Luciane Navarro, acompanhou a rotina dos 24 personagens retratados no documentário, suas famílias e colegas de trabalho nas universidades durante três anos. Ao todo, os profissionais gravaram 200 horas de filme e mais de 150 horas de produção e edição. O documentário tem 67 minutos de duração.

“O documentário Rodyna, produzido com profissionalismo pela equipe da UEPG, Fundação Araucária e Seti, é um marco inspirador. Ele foi filmado em cidades como Londrina, Curitiba e Prudentópolis. Com 150 horas de edição cuidadosa, o filme captura a essência de nossa jornada e a de outros 22 pesquisadores ucranianos. Ver nossas histórias na tela grande, contadas com tanta sensibilidade, é emocionante e nos faz sentir valorizados e necessários”, elogiou Kateryna.

Além do documentário, um livro com os estudos que estão sendo desenvolvidos no Paraná por esses pesquisadores será publicado ainda neste ano pela Fundação Araucária, responsável pela coordenação do Programa Acolhida em parceria com as sete universidades estaduais. A obra contará com pesquisas em diferentes áreas, incluindo artigos sobre políticas criminais da União Europeia, proteção dos direitos humanos no Brasil, profissionalização do serviço público e uso de Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), entre outros.

Confira o documentário Rodyna AQUI.

“Embora nosso coração permaneça na Ucrânia, o Brasil se tornou nosso segundo lar. Em Londrina e Jacarezinho, encontramos segurança, oportunidades de desenvolvimento, novos amigos e a hospitalidade única do povo paranaense. Nossas filhas, de 12 e 6 anos, estão bem adaptadas às escolas locais e nós, como família, construímos laços que nos fazem sentir parte desta comunidade”, detalhou a professora.

O Programa Acolhida busca prestar acolhimento social, oferecendo apoio nas atividades cotidianas dos pesquisadores ucranianos e suas famílias, com o objetivo de integrá-los socialmente por meio da vivência acadêmica e comunitária. Sem previsão para o fim da guerra na Ucrânia, o programa se tornou permanente em 2024, com recebimento contínuo de pesquisadores pelas universidades.

“O Programa de Acolhida a Cientistas Ucranianos, apoiado pela Fundação Araucária, Seti e UENP, nos deu a chance de continuar nosso trabalho científico e viver com dignidade e propósito. Rodyna é mais do que um documentário; é um testemunho do poder da solidariedade e da família que encontramos no Paraná, um lugar que agora chamamos de casa”, concluiu o professor.

Última modificação: Quinta, 07 Agosto 2025 14:59
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