A professora Maria de Fátima iniciou a discussão da mesa-redonda explanando sobre o período que antecedeu o Golpe Militar de 1964. Ela explicou como se deu todo o processo de instauração do Regime Militar no Brasil, os mecanismos de censura e opressão, os aspectos da tortura realizada pelos militares, apresentando dados, fontes históricas e documentos comprobatórios, além de refletir, também, sobre o papel do historiador. Para a docente, durante o regime militar, criou-se a ideologia, o pensamento da existência de uma força interna ameaçadora. “A intenção era investigar qualquer ação que se opusesse ao regime ou que tivesse ideias subversivas. Os documentos comprovam que a ideologia que sustentava a repressão eram ideias de 'segurança nacional'. O Estado deveria vigiar as fronteiras do território brasileiro contra a 'ameaça' comunista”, contou.
Em sua fala, o professor Carreri tratou dos mecanismos de censura na cultura brasileira da época, em especial no teatro, que segundo o professor, “apresentava uma potencialidade em mudar o pensamento político”. O professor falou sobre a peça “O Rei da Vela”, escrita por Oswald de Andrade em 1933, mas encenada apenas em 1967, em pleno período de repressão. Para o professor a década de 1930 é utilizada como interpretação dos anos 60. “O rigor da censura na cultura teve a mesma força das ações políticas. Isso fez com que houvesse muitas tentativas de aniquilação das encenações teatrais e de toda manifestação cultural tida como subversiva e contrária às ideias do Governo, como aconteceu com a peça ‘Roda Viva’, do Chico Buarque, a qual o cenário foi depredado e os artistas agredidos por um grupo de pessoas ligadas ao ‘Comando de Caça aos Comunistas’”, contou o professor.
“Diferentemente, não estava o capitalismo ou o imperalismo em contraposição ao comunismo, porque isso seria adentrar debates no campo político e filosófico, mas o que se tinha como oposição ao comunismo era a família 'ideal', de modelo patriarcalizado em pilares morais, como o casamento. O casamento, por sua vez, ajudaria a manter a ordem social, reforçaria o patriarcado, a disciplina e a hierarquia, alimentando um desejo anti-comunista cada vez maior”, salientou o professor. Ele conclui, enfatizando, que “nesse sentido, o general-presidente representaria, em sua força simbólica, o pai da família barsileira, e o comunismo, de algum modo, representaria o colapso dos marcos estruturais do casamento, a destruição do modelo ideal, por isso a ideia comunista precisava ser confrontada”.
Mais de 350 pessoas prestigiaram o evento, que reuniu professores, funcionários, acadêmicos da UENP, do IFPR, além de alunos e professores da educação básica de colégios da região. Isabella Reis Caproni da Silva, acadêmica do primeiro ano de História na UENP, partilhou que o evento foi de extrema importância para se compreender mais profundamente o assunto.“A Mesa não apenas discutiu questões relativas ao período da Ditadura no Brasil, mas nos fez refletir sobre fatos recentes e também sobre a atual conjuntura política do nosso país. Entender o passado e analisar o presente é muito importante para podermos construir nosso futuro”, destacou a estudante.
Lançamento de livro
Durante o evento, foi lançado o livro “Baú de memórias: reminiscências dos idosos nos 30 anos de redemocratização (Jacarezinho)”, das estudantes do curso técnico do IFPR, de Jacarezinho, sob coordenação do professor Rodolfo. A obra resgata a memória da ditadura nas cidades do interior, a partir de depoimentos e experiências de idosos jacarezinhenses. Segundo Maria Eduarda, a ditadura não ocorreu apenas nos grandes centros. “A cidade de Jacarezinho também sofreu com a repressão e os mecanismos de censura. Em nossas pesquisas, muitas pessoas relataram sobre desaparecimentos de munícipes que praticavam atos 'ofensivos' ao Governo. A própria Faculdade de Filosofia, na época chamada de Fafija, recebia, constantemente, cartas e avisos direcionados a alunos e professores que se expressavam de forma subversiva ao governo”, relatou a estudante.