O professor-doutor Maurício de Aquino, do Colegiado de História da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), coordenador desse projeto intitulado "Religião e café: Histórias de Jacarezinho nas pinturas murais de Eugênio de Proença Sigaud" salienta a importância dessas atividades para a superação do senso comum sobre a disciplina de História. "Os estudantes tiveram a oportunidade de deixar essa noção da História como uma disciplina muito centrada no livro didático, de amontoado de nomes, datas e fatos, muitas vezes, desconexos e distantes e que não exigem uma reflexão crítica e rigorosa. O projeto possibilitou-lhes experimentar um pouco do ofício do historiador que consiste, grosso modo, no trabalho de coletar informações, analisá-las e compará-las. Aprenderam, nesse percurso, como se produz história, que é por meio da pesquisa, e como o resultado desse trabalho é sempre inacabado, exigindo novas investigações".
As pesquisas aconteceram de fevereiro a novembro deste ano. As atividades com os alunos foram divididas em três etapas. Primeiro, os estudantes participaram de reuniões realizadas, quinzenalmente, nas dependências do Centro de Ciências Humanas e da Educação (CCHE/UENP), em Jacarezinho, onde tiveram aulas sobre a história da cidade e obtiveram conhecimentos sobre as relações entre história, memória e patrimônio cultural. Num segundo momento, foi estabelecido o cronograma das atividades propriamente de pesquisa, incluindo visitas técnicas à Catedral. Após, foi feita a distribuição dos temas pesquisados pelos bolsistas. Além das visitas realizadas sob a orientação do professor Maurício e também da professora Magali Moedinger Moreno, pedagoga do Colégio Rui Barbosa, foi sugerido aos alunos que fizessem visitas individuais para que pudessem observar e descobrir detalhes antes não contemplados. O exercício visava uma descrição por meio das observações feitas pelos estudantes, a pesquisa de documentos históricos e a interpretação desses materiais que resultou na produção de um texto-síntese dos trabalhos.
O orientador destaca a relevância do estudo sobre o patrimônio cultural para a vida do aluno. "Hoje, tudo aquilo que reafirma a identidade e que propicia reflexão sobre a própria existência não só local, mas em nível global, pode ser chamado de patrimônio, ou seja, todo o conjunto de elementos ambientais, culturais, materiais e imateriais de uma sociedade. Esses elementos favorecem a reflexão e a fruição, além de oferecerem certo bem-estar psicológico uma vez que se apresentam como marcos de experiências das pessoas ao longo de sua história".
Sobre a realização do projeto, o professor Maurício de Aquino conta ter sido gratificante e se diz satisfeito com o desempenho dos alunos. "Foi muito bom desenvolver esse trabalho com eles. Eu me surpreendi muito. Os alunos realizaram um bom trabalho, principalmente se considerarmos que é uma pesquisa que oferece certo grau de complexidade". A pedagoga Magali, que também acompanhou o desenvolvimento do projeto com os estudantes, conta que o gosto pela pesquisa pelos alunos veio com o tempo. "Num primeiro momento, os alunos não se interessaram muito, mas depois gostaram bastante. Foi um projeto muito enriquecedor. Tanto que os professores irão utilizar as pesquisas para outras turmas do Colégio".
Os alunos, que realizaram relatos individuais sobre a Catedral, são unânimes sobre o que mais gostaram do projeto. De acordo com depoimentos deles, foram as entrevistas com o senhor Américo Felício, coroinha na Catedral à época das pinturas, que mais impressionaram. Alan Pedro Osório da Silva, também aluno do projeto, conta sua experiência: "Foi muito legal. Aprendi o significado de muitas coisas, de vários detalhes das imagens que compõem as pinturas". João Gabriel Moedinger Ferreira mostrou-se deslumbrado com os conhecimentos: "Com o projeto, pude saber um pouco mais sobre a Catedral e conhecer um senhor que viveu essa história. Achei muito interessante, porque agora sei também que esse é um marco histórico de minha cidade". Patrícia Ribeiro Vitório disse que, após a realização do projeto, criou maior interesse pela História. "A gente descobriu muita coisa. Foi difícil a pesquisa, tinham datas que não batiam. Cada significado, símbolos e traços. Eu gostei muito de ter participado. Depois desse projeto, penso até em estudar História".
Pinturas
As pinturas murais da Catedral, Tombadas pelo Patrimônio Histórico e Artístico do Paraná em 1990, foram realizadas entre os anos de 1954 e 1957. Convidado pelo irmão Dom Geraldo (1909-1999), bispo da diocese, o artista plástico Eugênio de Proença Sigaud (1899-1979) foi responsável, além das pinturas, pelo projeto arquitetônico da igreja iniciado por Benedito Calixto Neto nos anos de 1940.