Segundo o coordenador do projeto, professor-doutor Rui Gonçalves Marques Elias, o surgimento do Papa-Léguas é um misto de paixão pelo esporte e pelo conhecimento. “Iniciamos o projeto Papa-Léguas em Maringá, quando eu ainda morava por lá. Após a minha mudança para Jacarezinho, decidimos criar o projeto aqui também. A ideia combinou o nosso gosto pela corrida com a vontade de produzir conhecimento e melhorar a qualidade de vida da comunidade participante”, relata.
O professor destaca que os participantes do grupo Papa-Léguas são aguerridos e buscam sempre superar marcas. Entretanto, a pretensão dos atletas não é vencer provas, mas sim, superar a si mesmo gradativamente. A história do advogado Leandro Bacon, de 38 anos, é um bom exemplo dessa superação. Integrante do grupo desde junho de 2018, o jurista, que era completamente sedentário, conseguiu perder 27 kg até abril deste ano.
“Quando cheguei ao projeto, eu mal conseguia dar uma volta completa na pista. Hoje, consigo ter um bom desempenho e já participei de duas provas. Eu, que era sedentário, comecei com a corrida e agora também pratico ciclismo e natação”, conta Bacon. Ele partilha ainda a mudança na qualidade de vida e destaca o fator coletivo do grupo como fundamental para o desempenho e as conquistas. “Eu me sinto mais disposto para o trabalho, já percebi uma melhora no meu vigor e na minha resistência física, bem como na capacidade muscular. Em 38 anos de vida, nunca havia experimentado uma mudança assim. O grupo era o estímulo que faltava, e hoje minha esposa e minhas duas crianças também participam dos treinos”, disse.
A professora Aline Roberta da Silva, de 28 anos, queria perder 10 quilos. Por algumas vezes, tentou se exercitar em academias, mas sempre desistia. Na corrida, ela se encontrou e perdeu 12 quilos, expandindo seus objetivos. “Eu vim correr e não parei mais. Acredito que seja por conta de ser um exercício ao ar livre e também tem o grupo, que está sempre nos acompanhando, mandando mensagens e apoiando. Na corrida, a gente consegue perceber a nossa evolução, tanto da aparência, como do desempenho, pois você se sente melhor para correr e fazer outras atividades”, afirma a atleta, que ingressou no Papa-Léguas duas semanas após o início do projeto em Jacarezinho.
A servidora pública Maria Lúcia Coimbra, de 53 anos, acompanha o Papa-Léguas desde 2017, porém, uma lesão permitiu que a corredora voltasse às atividades apenas em 2018 com força total. Ela destaca a importância que o projeto tem para aprimorar a experiência da prática esportiva dos atletas amadores. “Há um sistema de faixas, como no judô. Quando eu me lesionei e fiquei parada, tive que voltar à faixa branca. Tudo é pensado para nos estimular e ajudar a entender melhor nosso próprio desempenho. E eu digo que participar de um projeto como este faz totalmente a diferença para quem quer correr”, afirma.
“Antigamente eu pensava que, para correr, bastava colocar um tênis no pé e sair para a rua correr, e até dá pra fazer isso. Mas aqui, eu vejo a evolução. Há treinos específicos para cada necessidade de cada corredor. Há treinos de fortalecimento, treinos de tiro. É tudo planejado e você vai alcançando metas. Nós conseguimos perceber nosso próprio crescimento e isso faz diferença”, adiciona.
O professor Rui comenta que a corrida é um exercício bastante democrático e de baixo custo. “Basta um par de tênis e vontade de correr, qualquer lugar serve”. Porém, ele adverte que isso pode não ser o suficiente para motivar uma pessoa. “Por isso, fazemos treinos regulares e diferentes, temos a nossa distinção de faixas e objetivos, que estimulam a pessoa a alcançar suas metas. É um desafio pessoal”, reitera o professor.
Relevância acadêmica
Além de oferecer bem-estar, qualidade de vida e maior desempenho aos participantes, as informações coletadas dos atletas do Papa-Léguas, que duas vezes por ano passam por avaliações realizadas pelo projeto, servem para a produção de conhecimento. Ao todo, já foram realizadas sete monografias sobre o projeto, além de uma defesa de especialização e uma tese de doutorado. A equipe do projeto é composta por um professor da UENP, um professor colaborador externo e quatro estagiários de Educação Física.
Um destes estagiários é o acadêmico João Vitor Gaspar, que está no projeto desde o início. Para ele, o Papa-Léguas traz grandes contribuições à experiência da graduação. “Benefícios tanto no âmbito social, quanto profissional. O Papa-Léguas, por ter esse contato com o público, nos faz futuros profissionais de Educação Física muito mais preparados. Nos proporciona vivências com diferentes faixas etárias na busca pela qualidade de vida”, afirma.
O acadêmico Ricardo Siqueira de Oliveira comenta os desafios de coordenar atividades físicas de maneira coletiva, levando em conta os objetivos individuais dos corredores. “Desenvolvemos uma planilha de treinamento anual que chamamos de Periodização. Isso faz com que tenhamos dados para evoluir o treinamento, e também dividir o grupo em faixas por cor. É o mesmo treinando para todos, mas com intensidades e volumes diferentes de acordo com sua aptidão física. Quanto mais treinada à pessoa for, ela vai para as faixas mais altas. Depois vamos observando a evolução dos atletas”, descreve.
Os treinos acontecem todas às segundas, quartas e sextas-feiras, a partir das 18h, na pista de corrida do Centro de Ciências da Saúde (CCS -antiga Faculdade de Educação Física- Faefija), do Campus Jacarezinho da UENP. A comunidade é convidada a participar. O projeto, que tem o apoio da Nick Network, da Unimed Norte Pioneiro e do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da UENP, é totalmente gratuito.