Desenvolvido por professores e alunos do Campus Luiz Meneghel da UENP, o projeto busca avaliar se esses javalis atuam como reservatórios de doenças, além de propor estratégias que auxiliem o monitoramento do risco de dispersão das doenças, bem como soluções de manejo para o controle populacional na Unidade de Conservação (PEMSF).
O Javali apresenta altas taxas reprodutivas, rápido crescimento populacional e baixa predação, além de gerar híbrido férteis, o javaporco, no cruzamento com porcos domésticos. Ambos estão entre as 100 espécies exóticas, invasoras, com maior potencial de dano ambiental e econômico no mundo, além de serem responsáveis por causar prejuízos à flora nativa, atacar e abater espécies nativas, causar impacto nas lavouras e de atuar como reservatório para diversas zoonoses. O risco apresentado ainda se amplia pela interação do javali com morcegos hematófagos (vetor da doença).
“O projeto começou com a intenção de controlar a população de javali e liberar o Parque para visitação. Quando estávamos construindo as armadilhas, uma das câmeras instaladas registrou um javali passando e um morcego hematófago se alimentando de seu sangue. Com isso, percebemos uma correlação entre o aumento da população de javali com o aumento da de morcegos, o que é muito problemático, pois ao redor temos produtores rurais que criam animais e os morcegos podem ir até lá se alimentar e assim transmitir raiva ou outras doenças”, explica o coordenador do projeto, Marco Antonio Zanoni.
Todas as armadilhas e procedimentos realizados pelo projeto seguem as normas e recomendações do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Para realizar o monitoramento, são utilizadas 8 câmeras TRAP distribuídas pela Mata São Francisco e são 15 armadilhas de madeira espalhadas no entorno da mata.
De acordo com o professor Diego Resende Rodrigues, as câmeras servem para realizar a estimativa populacional do javali e como ele se distribui dentro da mata. “Dificilmente conseguiríamos fazer o controle dentro dos 840 hectares da mata, com a estimativa populacional sabemos onde estão em maior quantidade e fazemos uma estratégia direcionada para aquele local. Para cada ponto de câmera, realizamos uma avaliação ecológica rápida para ver se existe uma relação de áreas que são melhores que outras e se isso está relacionado a presença do animal ali. Tudo isso permite que façamos estratégias direcionadas e mais eficazes para o controle da espécie”, explica.
Após a captura dos javalis e dos javaporcos, o projeto coleta material para diagnóstico das diversas possibilidades de zoonoses. Os professores que participam da pesquisa realizam exames para detectar parasitas como o da raiva, a t-cruzi (trypanosoma cruzi), hemoparasitas, leptospirose, criptosporidiose e enteroparasitas. Entre as doenças que o contato com javalis ou javaporcos podem causar, estão as infecções crônicas, de difícil tratamento ou até fatais a humanos.
“Até o momento, as análises indicaram que 100% dos animais capturados estavam parasitados, com algum parasita intestinal (enteroparasitas). Também encontramos necropsias parasitas no pulmão e rim dos animais e agora estamos realizando as pesquisas para saber se são zoonóticos”, apontou o professor Flávio Haragushiku Otomura.
Além do javali e do javaporco, as câmeras do projeto também já registraram a presença de algumas espécies, como a Onça Parda, Jaguatirica, Tatu-galinha, Paca, Cutia, Irara, Gato do mato pequeno, Mão pelada, capivara, Gambá de orelha-branca e o Tamanduá-mirim.
O coordenador do projeto destaca a importância do trabalho colaborativo para que os resultados aconteçam. “Eu acabo ficando mais com o gerenciamento do projeto. Então a participação dos demais professores é fundamental para que tudo aconteça. O caráter interdisciplinar do projeto demonstra justamente o que é a questão da saúde única, trabalhando em conjunto a saúde ambiental, animal e humana”, frisou Marco Antonio.
Além dos professores Marco Antonio, Diego e Flávio, também participam do projeto de pesquisa os docentes da UENP Francielle Gibson da Silva Zacarias, Luciane Holsback Silveira Fertonani, Liza Ogawa e Matheus Pires Rincão. O projeto faz parte do programa de Saúde Única, do Governo do Paraná, desenvolvido pelas secretarias do Desenvolvimento Sustentável e do Turismo e de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.
Dentre os parceiros do projeto estão o Instituto Água e Terra (IAT), o Laboratório de Leptospirose da Universidade Estadual de Londrina, o laboratório de Virologia Veterinária da Universidade Federal do Paraná – Palotina e os professores Jean Max, da Universidade Estadual de Maringá, e Rafael Vieira da UFPR.