Maria Cristina destaca a importância do evento para o fortalecimento da agenda de gênero no atual cenário educacional, cujo foco principal, ela relata, é o enfrentamento de setores conservadores e fundamentalistas de todas as colorações que hastearam bandeiras divulgando o fim da “ameaça do gênero” na educação. “Alimentadas por discursos que criaram um pânico social, essas ideias refletem posturas conservadoras e tentam proibir que a discussão chegue às escolas”, salienta a professora.
Por qual razão essa discussão importa para a escola? De acordo com a professora Maria Cristina, é preciso esclarecer que se trata da inclusão de conhecimento de noções teóricas e não de opiniões pessoais. “As teorias de gênero estão fundamentadas em estudos interdisciplinares – da sociologia, antropologia, do direito, da psicologia etc - e buscam explicar que as diferenças existem e devem ser reconhecidas. O que não se pode é construir desigualdades sociais a partir delas”, ressalta. A professora pontua ainda que “impedir que o conhecimento sobre gênero seja debatido nas escolas significa compactuar com a naturalização da violência como prática disciplinadora. E isso, com certeza, significa apostar na ruína da educação pública brasileira”.
“Essas reflexões carregam muitas indagações para o momento atual dos encaminhamentos coletivos quando buscamos traçar as novas diretrizes dos cursos de Licenciatura da UENP”, pontua a professora. Conforme ressalta Maria Cristina, a discussão da qualidade da formação inicial e continuada de professores e professoras oferecida nos cursos não pode prescindir do debate sobre qual docente “queremos formar nesse Brasil”. A esse respeito, a professora entende que “não basta incluir os debates sobre gênero, diversidades étnico-racial, sexual, como temas ‘opcionais’, uma vez que a formação continuada só faz sentido quando precedida da formação inicial”.
A docente indaga sobre como “continuar” algo que não foi iniciado. “Considero fundamental situar essas questões como conhecimento, conteúdos explícitos nos cursos de licenciatura. Um dos desafios que convoca, não apenas os cursos de licenciatura, mas a própria Universidade para o compromisso com os grupos e coletivos sociais que, historicamente, têm sido excluídos da garantia de direitos”, finaliza Maria Cristina.