A conferência realizada em Cornélio Procópio pela professora-doutora Maria Nilza da Silva, da Universidade Estadual de Londrina (UEL), teve como tema, assim como nos outros campi, “As Cotas Sociais e Raciais - Ações que deram certo”. Pós-doutora em Ciências Sociais e coordenadora do Laboratório de Estudos Afro-Brasileiros (LEAFRO) da UEL, Maria Nilza falou sobre a experiência das ações afirmativas na Universidade de Londrina e acentuou a necessidade das cotas raciais e sociais no ensino superior brasileiro por não possuir um sistema inclusivo.
Durante o evento, a professora apresentou perspectivas de análise em relação as ações afirmativas. Dentre os pontos destacados, lembrou que pessoas mais conservadoras em relação ao tema atribuem “por princípio aos indivíduos toda responsabilidade pela posição social que ocupam”, sem considerar a história ou mesmo a negação das oportunidades. “Então se os negros não entraram na Universidade até hoje. Se os índios não estão aqui presentes, a responsabilidade é deles”, criticou. Em outro momento, a professora ressaltou que “as ações afirmativas estão baseadas numa história e numa situação concreta de desigualdade, de exclusão da população negra, indígena”. Ainda durante a palestra, Maria Nilza apresentou dados da UEL que mostram que os alunos cotistas têm desempenho semelhante ou igual aos não cotistas. Ela destacou ainda índices que mostram também que o conceito da UEL, nas avaliações feitas pelo MEC, evoluiu nos últimos anos.
Depois da palestra, os microfones foram abertos para perguntas. Maria Nilza respondeu a diversos questionamentos não só sobre a implantação das cotas raciais e sociais, mas também sobre como os cotistas, sobretudo os negros, lidam com o preconceito que eventualmente sofrem no meio acadêmico. “O preconceito está em todo lugar. O problema do racismo é planetário, mas cada região do mundo experimenta de forma específica. Ele se manifesta nas ruas, nos mercados, onde quer que estejamos. Na Universidade, infelizmente, não é diferente”, lamentou. Ela enfatizou, entretanto, que o que se deve ter em mente é que, apesar do preconceito, “a Universidade é o lugar onde o aluno adquire conhecimento, e conhecimento adquirido é algo que ninguém pode tirar da gente”, frisou.
Para a professora Carla Holanda, docente do curso de Geografia da UENP e integrante da Comissão de Estudos para Ações Afirmativas, o evento atingiu o objetivo. “Acredito que a Jornada foi uma oportunidade de dialogar e sensibilizar a comunidade acerca das importantes políticas afirmativas que podem vir a ser implementadas na UENP e mostrar as necessidades e os impactos na vida da sociedade que nos cerca”, destacou. A professora valorizou também o encontro da comunidade acadêmica da UENP com as artes, recordando a apresentação Cultural do grupo Tons Afro, de Ourinhos (SP), que cantou músicas voltadas para a valorização da cultura afro-brasileira. “A Jornada foi um momento lindo e inesquecível na trajetória da UENP que colaborou para que ela seja colocada também como um espaço de luta e de busca por diminuição das desigualdades em tempos que movimentos contrários, infelizmente, são tão presentes”, concluiu.
A reitora da UENP, Fátima Aparecida da Cruz Padoan, destacou, ao final do evento, que o objetivo da Jornada de Debates foi de proporcionar a toda comunidade acadêmica oportunidade de conhecer e debater o tema das ações afirmativas. Durante a fala, a reitora enalteceu o trabalho realizado pela Comissão e pela Proec. “Essa Jornada é parte dos trabalhos da Comissão que, em maio, vai apresentar ao Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão, um relatório sobre a viabilidade da implantação dessas ações na UENP. E queremos que toda a Universidade acompanhe esse processo”, ressaltou.
O evento contou com a presença do diretor do Campus de Cornélio Procópio, Sérgio Roberto Ferreira; do vice-diretor Ricardo Campos, além de pró-reitores, diretores de Centro, professores e membros da Comissão, além de cerca de 500 alunos que lotaram o prédio do PDE para participar do debate.