A escola indígena tem, atualmente, 76 alunos matriculados e atende desde a educação infantil até o final do ensino fundamental. Tiago trabalha na escola desde 2018. “Para trabalhar na escola indígena, é necessário ter uma autorização, a carta de anuência do Cacique, da liderança. Depois de me formar, comecei a atuar aqui na escola como coordenador pedagógico. No fim do mês passado, fui indicado pelo Cacique para assumir a direção da escola”, disse.
Como diretor da escola, Tiago planeja dar continuidade aos trabalhos que já vem sendo realizados. “Pretendo trazer o ensino médio para dentro da aldeia. Também quero buscar mais trabalhos voltados à cultura, além de trazer materiais que possam agregar para os professores e alunos e mais parcerias para a nossa escola”.
Tiago conta que a escola tem um grande enfoque para a cultura Kanhgrén. Ele destaca dois eventos que a escola realiza ao longo do ano e que ajudam a manter viva a cultura da aldeia: a Semana Cultural, realizada na semana do Dia dos Povos Indígenas, 19 de abril, que é somente para a comunidade escolar, em que trabalham tudo que diz respeito a cultura indígena; e a Festa do Emi, realizada em outubro, aberta para toda a comunidade, em que apresentam tudo que é elaborado na escola, além de danças, venda de artesanato, comidas típicas, palestras, jogos indígenas e outras atividades.
Graduação na UENP
Formado em 2017, Tiago revela que a UENP foi como uma casa para ele durante o período em que estudou. “Aprendi muitas coisas com os meus colegas. Foi uma ótima experiência. Também tive ótimos professores, como o Luiz Antônio, que foi meu orientador, e a professora Roberta Negrão. A Universidade não te ensina a ser professor, pedagogo ou diretor, isso aprendemos com a prática, mas ensina a questão teórica, onde você pode buscar conhecimento, onde podemos nos aprimorar mais. Eu só tenho a agradecer! Agora, tenho o desejo de voltar para a UENP e cursar o mestrado”, partilha.
De acordo com ele, para os indígenas, a experiência de cursar a universidade é desafiadora. “A sensação que todos os indígenas têm quando chega à universidade é de que caiu de paraquedas, pois é um ambiente novo, é algo que não estamos acostumados, são culturas diferentes. Nós levamos um choque. Além do que o povo indígena é mais tímido e, durante o curso, precisamos ter muitos posicionamentos”, relembra.
Para os indígenas que tem o sonho de cursar uma faculdade, Tiago deixa um recado. “Façam a inscrição. Por meio da educação, do conhecimento, você chega longe. Uma frase que eu uso muito é: ‘podem tirar tudo da gente, menos o conhecimento que conquistamos’. Antigamente, nós, povos indígenas, lutávamos com arco e flecha e agora lutamos com papel, caneta e a tecnologia disponível pra gente. O conselho que eu deixo é que o aluno seja um guerreiro para vencer, se formar e poder dar retorno para sua terra indígena, porque nosso povo precisa”, finalizou.
O professor Luiz Antônio de Oliveira, coordenador do curso de Pedagogia da UENP, elogiou a trajetória de Tiago na graduação. “O Tiago Mafar conseguiu romper com esse desequilibro que eu identifico e prosseguiu na sua formação aqui no curso com muita competência, com muita dedicação, com muita qualidade e a gente também conseguiu estabelecer essa relação de entender os seus processos do pensar, do agir, e fizemos essa parceria riquíssima com esse menino”, recordou Luiz Antônio.
A diretora do Campus de Cornélio Procópio, professora Vanderléia da Silva Oliveira, manifestou orgulho pela realização do aluno e pela formação ofertada pelos cursos da UENP aos povos indígenas. “A Universidade cumpre seu papel de inclusão social e valorização das conquistas votadas às políticas de ações afirmativas, garantindo o acesso à educação superior pública de qualidade".