Ruan Barreto de Freitas, de 8 anos, confessou que, no dia anterior a nossa conversa, esqueceu-se de escovar os dentes, mas garantiu que não vai se descuidar mais. “Estou escovando certinho. Só ontem à tarde que eu esqueci. Vou cuidar sempre dos dentes para ter um sorriso bonito”, comenta. Durante dois sábados, Beatriz, Ruan e mais 70 crianças participaram de atividades realizadas por estudantes do curso de Odontologia da UENP na escola municipal João de Aguiar, do bairro Dom Pedro Filipack. O projeto é realizado desde junho.
Durante as ações, as crianças participaram de avaliações que direcionaram os trabalhos realizados. A partir da constatação do que precisava ser feito, foi proposto pelos professores envolvidos no projeto um conjunto de atividades lúdicas que teve como objetivo informar e conscientizar as crianças. Essa etapa buscou ensinar, por meio de brincadeiras, jogos, teatro, filmes e palestras como elas devem agir perante a manutenção da saúde bucal, quais alimentos devem ser evitados e aqueles que podem ser consumidos com frequência.
As crianças receberam escovas de dente e, com a orientação individual dos alunos de Odontologia, aprenderam sobre a quantidade ideal de creme dental para escovar os dentes, a escovação da língua, a firmeza e destreza ideal durante a escovação e o uso do fio dental. “Várias crianças afirmaram que dificilmente realizavam a higiene bucal. Algumas não tinham nem escova de dentes”, disse o professor Douglas Fernandes da Silva, um dos coordenadores do projeto.
A estudante Maria Tereza Bertoline Botelho, do 2º ano de Odontologia, comenta que muitas crianças ainda não tinham o conhecimento da importância da escovação, do fio dental, nem sabiam o que é a cárie. “Trouxemos para eles um conhecimento básico para poderem aplicar isso no dia a dia”, disse. Letícia Perez Mazzani, também do 2º ano, partilha a satisfação de participar do projeto. “Ficamos bem felizes em poder ajudar quem tem necessidade e que, às vezes, não tem a possibilidade de receber esse tipo de atendimento”.
Liciane Paula Leite de Meira, aluna do 2º ano, destaca ser esta uma ótima oportunida para os acadêmicos aplicarem na prática o que aprendem em sala de aula. “Acredito que as nossas ações, mesmo que sejam pequenas, tenham impacto muito importante na vida dessas crianças, na vida de quem está recebendo essa ajuda. É uma diferença pequena, mas é uma diferença. O que aprendemos em sala de aula só é válido quando podemos repassá-lo aos outros. E atender a essas crianças, que não têm acesso a essas questões básicas, nos deixa muito felizes”, partilha.
Para a professora Sibelli Olivieri Parreiras, esta é uma grande oportunidade para o acadêmico vivenciar a prática da cidadania na comunidade. “Este projeto possibilita ao estudante de Odontologia ter sua visão ampliada, desvinculando da sua prática assistencial, tecnicista e colocando-se como educador em saúde. O estudante universitário leva o saber e o conhecimento da saúde bucal às crianças e adolescentes participantes do projeto, com intenção de provocar mudança de atitude e prevenir doenças bucais e, consequentemente, a melhoria na qualidade de vida dos mesmos”. O próximo encontro acontecerá neste mês e haverá envolvimento dos responsáveis pelas crianças, a fim de informar sobre a importância da manutenção de bons comportamentos de saúde bucal no meio familiar, pontua a professora.
Cultura no Bairro
As crianças atendidas fazem parte do Projeto Cultura no Bairro, coordenado pela estudante de Pedagogia da UENP, Márcia Cleto. O Projeto existe há 12 anos e atualmente desenvolve trabalhos relacionados a cultura, esporte e lazer com crianças de Jacarezinho.“Muitos vêm de familias muito carentes. A parceria é muito impontante. São crianças que realmente precisam”, ressalta Márcia Cleto. “As crianças ficam muito felizes e comovidas quando falo que os estudantes de odontologia virão. Para eles é um dia de festa”, comenta.
“Aqui temos crianças que já estão na segunda dentição, com dentes comprometidos. Então quando surgiu essa oportunidade, eu abracei, porque eu vi que era uma maneira de trazer aqui para o bairro, para a comunidade uma coisa que talvez eles nunca vão ter oportunidade lá fora”, partilha Márcia.
A projeto está sendo desenvolvido por meio do Grupo de Estudos e Pesquisas em Corporeidade, Pedagogia do Movimento e Diversidade Humana (COPEDI), do Centro de Ciências da Saúde (CCS). O Projeto tem a coordenação dos professores Almir de Oliveira Ferreira, Douglas Fernandes da Silva, Jussara Eliana Utida, Héres Faria Ferreira Becker Paiva, Raphael Gonçalves de Oliveira, Sibelli Olivieri Parreiras e Sonia Regina Leite Merége.