A professora explica que as obras em exposição, produzidas e publicadas entre os anos de 1967 e 2011, revelam um diálogo com o período da Ditadura instaurado no Brasil. "São romances que apresentam, de forma alegórica ou testemunhal, possibillidades de compreensão e discussão sobre questões como o totalitarismo", salienta Adenize.
A professora destaca da exposição obras como "Quarup", de Antônio Callado, "Zero", de Ignácio de Loyola Brandão, e "Sombra dos reis barbudos", de José Veiga, que, escritas e publicadas nos 'anos de chumbo', mostram-se como narrativas que conduzem à reflexão ao proporem situações alegóricas ou realistas sobre o panorama político brasileiro. Ela destaca que "As obras 'Em Câmara Lenta', de Renato Tapajós; '1968', de Zuenir Ventura, revelam o testemunho e o retrato jornalístico pungente de dentro do período. Ressalte-se, ainda, narrativas contemporâneas de autores como Bernardo Carvalho, Fernando Bonassi, Bernardo Kucinski e outros que dialogam com o período de modo a discutir esse passado recente e que, de certa forma, foi silenciado".
As obras expostas compõe o acervo pessoal da professora e fazem parte dos estudos de seu projeto de pesquisa institucional: "A narrativa contemporânea de língua portuguesa e a memória em dissipação", que tem como objetivo diagnosticar, a partir da leitura e análise de narrativas contemporâneas de língua portuguesa (brasileiras, portuguesas e africanas) produzidas nas últimas duas décadas (1994-2014), a relação que a Literatura Contemporânea estabelece com o passado histórico recente, relação efetivada em alguns romances exponenciais do período.
Sobre o diálogo relacionado aos estudos e a importancia da iniciativa, Adenize pontua: "Compreender o incompreensível é a instauração da aprendizagem. Em momentos (pós) modernos, em que os 'lugares da memória' edificam o passado para que o presente não se esqueça das atrocidades traumáticas, Theodor Adorno chama a atenção para o fato de que menos importante é sacralizar a memória do que aprender (através da compreensão) com ela para evitar danos no presente e no futuro e não permitir que essa situação traumática ocorra novamente".
Ela salienta que "Nos 50 anos de aniversário do Golpe de 64, a exposição é apresentada como forma de instigar os acadêmicos dos cursos do CLCA e CCHE a lerem as obras, bem como, levá-los a compreender e refletir sobre nossa história recente, e em particular, discutir nossa história política para que o esquecimento não nos tome e nos aliene".