Nery, que é o primeiro transexual masculino operado no Brasil, trouxe para a discussão o tema "Transexualidade e transfobia: Uma viagem solitária". Durante sua comunicação, o autor esclareceu alguns conceitos que destoam em torno da identidade e sexualidade, atentando para as convenções pré-estabelecidas pela sociedade. "Nós nascemos e vivemos dentro de caixas pré-estabelecidas pela cultura. Se o sujeito coloca um pé fora dessa caixa, ele já é marginalizado", afirmou.
No decorrer da palestra, João Nery ainda pontuou sobre o Projeto de Lei que leva o seu nome, elaborado pelos deputados Jean Wyllys e Érika Kokay. A lei, que tramita no Congresso desde 2013, caso seja aprovada, garantirá a qualquer "trans" mudar seu registro gratuitamente, mantendo os mesmos números de identificação (RG e CPF). A lei ainda assegurará que toda pessoa, maior de 18 anos e capaz, possa requerer intervenções cirúrgicas de mudança de sexo, sem exigir análises ou tratamentos psicológicos, tampouco autorização judicial, o que não impede que a pessoa faça terapia.
O escritor, durante a palestra, recuperou memórias de sua trajetória de vida e partilhou que já se reconhecia homem com quatro anos de idade. Apontado pela pesquisadora Simone Ávila como "uma referência nacional não só por ter sido o primeiro trans-homem do Brasil, mas também por sua generosidade e sua coragem em compartilhar sua experiência singular", João Nery relatou ainda a perda do diploma de psicólogo, por conta da identidade falsa que fez para mudança de nome, tornando-se um 'analfabeto oficial'. Por esse fato, João Nery perde também o histórico profissional, o que o leva a necessidade de atuar nos mais diversos campos de trabalho como vendedor, motorista, pedreiro e artesão.
No encerramento, João Nery, que é pai e avô, convidou todos os participantes a lançarem um outro olhar para a questão discutida. "Espero que vocês revejam alguns valores e passem a lançar um novo olhar para os trans-gêneros, aos travestis, para a diversidade sexual de uma maneira geral. Nós temos que aprender a respeitar e adotar as igualdades e diferenças. Quanto mais plural nós sejamos, melhor é", finalizou. Ainda na primeira noite, a professora-doutora Patrícia Karina Vergara Sánchez (UAM), do México, realizou a palestra: "La cuerpa lesbiana como resistencia política ante el modelo médico hegemônico".
JORESP/ CISEX
O evento, promovido bianualmente, possui a finalidade de debater e propor discussões relacionadas às diversas temáticas da Educação das Relações de Gênero e Sexualidade e a formação de educadores – inicial e continuada –, bem como promover as apresentações de trabalhos acadêmicos. Participaram da solenidade de abertura o vice-reitor da UENP, Fabiano Gonçalves Costa; o diretor do Campus Jacarezinho, Fábio Antonio Neia Martini; o coordenador do evento, Mateus Luiz Biancon; a gerente geral da Caixa Econômica de Jacarezinho, Norma de Fátima Saad Sczepanski; o gerente do Sesc, Sérgio Luiz Tibúrcio; a diretora da 19º Regional de Saúde, Egle Vanzeli; a coordenadora do Programa DST/AIDS da secretaria de Saúde de Jacarezinho, Suelene Manfré; a diretora do CLCA/CJ, Luciana Brito, além de professores e alunos da UENP e outras instituições de ensino superior.